
Tumulto perto de centro de distribuição de ajuda em Gaza deixa 20 mortos

A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), apoiada por Israel e Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (16) a morte de 20 pessoas que esperavam por ajuda, e acusou homens armados de terem provocado "um tumulto", uma versão que fontes palestinas questionam.
"Segundo as informações que temos, 19 das vítimas morreram pisoteadas e uma foi esfaqueada em meio a um tumulto caótico e perigoso", declarou a organização em um comunicado.
A Defesa Civil de Gaza também reportou a morte de 20 pessoas nesta quarta-feira, embora tenha afirmado que a causa dos óbitos foi por "tiros da ocupação israelense" após a confusão de pessoas que esperavam para receber alimentos na região de Al Tina, a sudoeste de Khan Yunis, perto de "um centro de distribuição de ajuda".
Mais cedo, uma fonte médica do hospital Nasser, em Khan Yunis, informou um balanço reduzido à AFP, registrando nove mortos, "incluindo várias crianças", após as "forças israelenses" e agentes de segurança da GHF abrirem fogo.
A fundação privada iniciou suas operações em 26 de maio, mais de dois meses depois que Israel interrompeu a entrega de ajuda humanitária em Gaza, região bombardeada e que enfrenta um cenário de iminente fome em massa.
Desde então, reiterou com frequência que suas operações de entrega são realizadas sem incidentes.
Diante das restrições impostas por Israel à imprensa e às dificuldades de acesso ao terreno, a AFP não tem condições de verificar de forma independente as alegações das partes envolvidas.
A AFP entrou em contato com o Exército israelense, que disse estar investigando o incidente.
- "Nenhum progresso" para uma trégua -
Na terça-feira, a ONU disse ter registrado 875 mortos no caminho para receber alimentos em Gaza desde o final de maio, 674 deles "perto de instalações da GHF".
As Nações Unidas e as principais organizações humanitárias se recusam a trabalhar com esta organização, que é acusada de violar princípios humanitários.
No pátio do hospital Nasser, para onde foram levados os corpos dos mortos no tumulto, Abdullah Alian, que estava no local do incidente, relatou que a "ajuda [era] uma armadilha".
"Eles atiram contra nós, jogam bombas e borrifam gases [lacrimogêneos] em nossos olhos", contou.
"O que está acontecendo no local confirma as intenções e os planos da ocupação [Israel] de manter e prolongar seu controle militar na Faixa de Gaza", comentou um membro do comitê político do Hamas, Basem Naim.
Um dirigente de alto escalão do Hamas e duas fontes palestinas próximas às negociações indiretas com Israel desmentiram uma informação divulgada na imprensa israelense de que os diálogos para alcançar uma trégua em Gaza estariam avançando.
"Nenhum progresso foi feito até agora nas negociações indiretas em andamento em Doha entre as delegações do Hamas e de Israel", afirmou uma das fontes palestinas à AFP.
Em 6 de julho, Israel e Hamas iniciaram conversações indiretas no Catar com o objetivo de estabelecer uma trégua de 60 dias e obter a libertação de reféns mantidos em Gaza em troca da libertação de prisioneiros palestinos em Israel. No entanto, ambos trocam acusações sobre o atraso das negociações.
A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, quando combatentes do movimento islamista palestino Hamas realizaram um grande ataque no sul de Israel. Naquele dia, os islamistas mataram 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais.
Os milicianos também sequestraram 251 pessoas, 49 das quais ainda são mantidas em cativeiro em Gaza, incluindo 27 que o Exército israelense acredita estarem mortas.
Em resposta, os militares israelenses lançaram uma ofensiva em Gaza que deixou pelo menos 58.573 palestinos mortos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.
R.Sadowski--GL